- FIRST TRACK -
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A música foi a escapatória de uma vida que, para Oz, parecia desbotada demais para fazer sentido. Desde pequeno, as únicas melodias que ecoavam pelas paredes de sua casa eram religiosas, como: cânticos de adoração e orações musicadas que mais pareciam súplicas sussurradas ao céu do música de fato. Vivendo em uma tradicional família tailandesa, o único traço incomum era o fato de serem cristãos em um país majoritariamente budista, e isso, por si só, já fazia Oz se sentir deslocado.Seu primeiro contato real com a música foi dentro da igreja. Um lugar onde os fiéis pareciam sempre carregar o peso da salvação nos ombros, algo visto como hipocrisia pelos olhos do tailandês. Oz detestava a obrigação de estar lá todos os domingos, mas foi nesse espaço que seus dedos tocaram pela primeira vez as cordas de uma guitarra, depois de um baixo, e mais tarde, as baquetas de uma bateria.Com a chegada da adolescência, veio também a fome por liberdade. Aos poucos, Oz passou a explorar sons que iam além do permitido por seus pais. Após as aulas, desaparecia por horas numa pequena loja de CDs perto da escola, onde criou laços com o dono, um homem já de idade e de alma bondosa que o deixava escutar qualquer álbum que quisesse. Oz se perdia em faixas desconhecidas e acabava voltando para casa sempre mais tarde do que deveria, com alguma nova obsessão musical martelando em sua mente. Foi uma rebeldia mansa, quase inocente, mas o necessário para abrir um mundo completamente diferente para ele.Aos 15 anos, montou sua primeira banda com amigos da escola, ensaiando na garagem de um deles. Oz ainda se lembra com carinho do quão ruins eram no início. Tocavam apenas covers de clássicos do rock, desafinados porém com a paixão que os deixa satisfeitos no final de cada ensaio. Com o tempo vieram as composições autorais, pequenas criações nascidas da urgência juvenil de existir através do som, e ali Oz encontrou o seu segundo maior amor.Quando atingiu a maioridade, Oz entendeu que a banda não o levaria tão longe quanto sonhava, e com uma mala pequena, os bolsos quase vazios e o coração transbordando ambição e ansiedade, partiu em busca de mais, algo que o deixaria satisfeito. Deixou a Tailândia para trás como quem pula de um penhasco, torcendo para que a música lhe servisse de paraquedas.Suas letras foram o maior ponto em sua jornada, pois foi com elas que conseguiu compor para algumas bandas e ter seu nome conhecido na indústria da música, sendo até mesmo contratado por uma empresa de c-idols na China. Compunha em inglês, e os produtores adaptavam as canções para o mandarim. E aos poucos, Oz começou a trilhar seu caminho.Mas algo dentro dele ainda o deixava inquieto. Era estranho ouvir suas palavras ganharem o mundo nas vozes de outras pessoas, sem que ele estivesse lá, no palco, sob as luzes. Aquela sensação de invisibilidade era dolorosa, como se fosse apenas a sombra do espetáculo — a mente, mas não o rosto; o coração pulsante por trás da cortina, e nunca o protagonista.Desiludido, pensou em voltar para casa, pedir perdão aos pais por ter rompido com tudo. Mas o destino acabou mudando o ritmo da sua vida no último minuto. Em uma rave clandestina, cercado de luzes vibrantes e corpos dançantes, conheceu pessoas que mudariam tudo em sua vida. Pessoas que respiravam música como ele, que não o via como um coadjuvante, mas como uma peça importante na ideia que tiveram.E foi ali que Oz renasceu. A música teve seu rosto, sua voz, seu ritmo. Descobriu novos sons, novas cenas, novos jeitos de pertencer àquilo que sempre teve em seu coração.

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